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Resenha: "A Menina Submersa: memórias", de Caitlín R. Kiernan ~

Um livro difícil de se explicar... A Menina Submersa: memórias foi um livro que me surpreendeu; totalmente diferente de tudo que li até hoje (que não foi pouca coisa). Uma literatura contemporânea que te tira da zona de conforto. A história é contada por India Morgan Phelps, mais chamada de Imp. De início, ela fala que escreverá uma história de fantasmas, não exatamente no sentido “espiritual” de almas penadas, mas sim de lembranças, imagens e até canções que a perseguem por sua vida; ficam ali, vivas em sua mente não deixando de serem esquecidas. E bom, dentre esses “fantasmas”, há pessoas também, como sua mãe e sua vó, mais especificamente as lembranças e ensinamentos que tivera delas, além de outra em especial: Eva Canning. Esta, foi a que mais me intrigou, e terminei o livro sem saber se era real ou não. Não falarei muito sobre ela para não dar spoiler, apenas digo que Imp, certa noite, encontra Eva (nua e aparentemente molhada) de pé na beira da estrada. O que ocor...

A Alice "das Maravilhas" ~

Essa é uma dessas histórias que nem eu sei se foi verdade. Ou foi verdade, mas não real. Ou real, com algumas partes de verdade. A outra seria mentira? Ou apenas delírios? Difícil dizer, e na real (essa é real mesmo), não estou a fim de pensar sobre essa questão, depois você se ocupa com isso. O que vou lhe contar ocorreu no último verão. Pelo calor, acredito que era no verão sim, quase certeza. Perdoem se estou meio confusa, minha mente anda uma bagunça. Já nem sei mais quando estou desperta ou em fantasia. Posso estar aqui, contando-lhe essa narrativa, mas nem por isso lhe garanto que meu espírito está de fato nesse lugar. Não sei mais quando estou realmente acordada.  Morava numa cidadezinha no interior de São Paulo, meio isolada do resto do mundo. Minha casa ficava um pouco afastado do resto da cidade, numa área onde só há pequenos sítios. A maior propriedade por lá é a Fazenda Iaciara, que abriga um enorme rebanho de Nelores. Constantemente passeava pela es...

Café com letras ~

Sou uma viciada em café. E em livros. E em ambientes aconchegantes. Aí você junta esses três elementos e pronto, meu organismo se afoga em serotonina. Café e um livro combinam. Um sofá com mesinha combinam. Um livro sobre essa mesinha combinam. Por que não adicionar um café nela também? Beber café é um ritual. Aprecio cada gole da bebida, sem pressa de acabar, usufruindo de cada gotícula que percorre minha língua. Não funciona se estou com pressa. O mesmo ocorre com leituras: preciso estar num lugar favorável, tranquilo, para absorver cada palavra. É como se estivessem num mesmo mar em que podemos mergulhar, sem correr o risco de afogar uma ou outra. A melhor coisa que fizeram foi adicionar uma cafeteria numa livraria. O ambiente entre livros é extremamente confortante. Todos absorvidos entre as prateleiras, olhando capas, folheando páginas, ou sentados num canto lendo previamente alguma publicação. Há uma concentração ali, e junto dela um agradável silê...

Resenha: Discurso do método, de René Descartes ~

Quem diria que eu demoraria tanto tempo para ler um livrinho de 50 páginas! Essa foi a primeira vez que leio uma obra de René Descartes, filósofo, físico e matemático francês, fundador da filosofia moderna, que viveu entre 1596 à 1650. Apesar de curto, não chega a ser uma leitura light como histórias e novelas convencionais. Talvez por isso, exigiu um tempo a mais do que esperado pois, a cada parágrafo, eu parava ora para reler para compreender o que estava escrito, ora para pensar sobre o que tinha lido. Definitivamente não foi um bom livro para ler no metrô pois exigia bastante atenção, o que não é possível porque fico com uma parte de mim atenta ao meu redor, não dando a atenção devida às palavras de Descartes. A pesquisa de Descartes   Esse livro foi escrito numa época em que todas as publicações filosóficas eram escritas em latim, sendo, portanto, acessível apenas para os conhecedores dessa língua; isso é, a sociedade “mais culta”. Descartes, com seu Discurso do Méto...

Isso não é um cachimbo ~

Em muitos momentos em que saio para fotografar, recordo-me da obra de René Magritte "Ceci n’est pas une pipe" (Isso não é um cachimbo). Fotografia é uma arte, e com certeza não fugiria da ideia de que é apenas uma representação de uma cena (ou objeto), não a cena em si. Pode parecer óbvio, mas na hora não se passa na cabeça, até o instante em que não consigo registrar com exatidão o que está à minha frente comparada em como aquilo se parece aos MEUS olhos. É extremamente frustrante quando visualizo algo com tanta beleza, mas pela tela da câmera essa beleza se perde. Não importa o ângulo ou configurações que aplico, nunca sai com a mesma perfeição que meus olhos enxergam. Sempre busco em minhas fotos expor o melhor do objeto em questão, ou quando um conjunto de elementos se juntam harmoniosamente, tento captar essa harmonia, mas nem sempre consigo. Não sei se eu deveria estar chateada com algo assim, até porque minha visão nunca será igual a do...

"Bufo & Spallanzani", de Rubem Fonseca ~

Na busca de histórias diferentes que fogem daqueles romances idealizados água-com-açúcar, com descrições mega detalhadas, personagens transbordando intensos sentimentos sem contexto, uma amiga me apresentou ao Rubem Fonseca. Queria conhecer narrativas sob uma visão “mais masculina”, sem todos aqueles terecotecos melosos enfeitando cenários e personagens típicos de livros voltados ao público feminino.  Algo simples, objetivo e direto. E encontrei isso no Sr. Fonseca. Esse não foi o primeiro livro que li desse autor, e sim “O Seminarista” (obra maravilhosa também, que futuramente pretendo fazer um post sobre). Porém, é tão incrível quanto.  Confesso que em “Bufo & Spallanzani” eu nada conhecia (descobri hoje que tem até filme BR dele), nunca tinha lido sinopse, visto resenha de alguém, nada. Foi um tiro no escuro.  Como gosto do autor, escolhi aleatoriamente alguns livros deles num sebo de Guarulhos, já julgando que qualquer um que eu pegasse não me desapontari...

Pneus também possuem histórias ~

Qual é o protagonista das histórias que você lê? Uma garota ou um garoto? Um homem ou uma mulher? Animais antropomorfizados? Seres mitológicos? Heróis? Uma árvore?  Com certeza você já leu diversos contos e narrativas com os mais diversos “tipos” de personagens centrais. Mas aí eu te pergunto: já leu a história de um pneu? “Ora, mas quem escreveria isso? E POR QUE escreveriam isso?“  Aí eu que te pergunto: por que NÃO escrevê-lo? Todo mundo tem uma história para contar, mas nem todos possuem alguém para escutá-la. Um mero e redondo pedaço de borracha como eu dificilmente atrairia os olhos de alguma pessoa. Poucos, pouquíssimos mesmos, gostam e notam a gente.  Quando expostos num mercado, a maioria dos que estão ali apenas verbalizam um “Nossa, que cheiro forte de borracha nova!” ao passarem por uma pilha de nós. Ou na rua, quando um carro derrapa, esbravejam “Que fedor de borracha queimada!”. Mas olhar para nós e admirar, raros. Não lembro exatamente quando f...