Em muitos momentos em que saio para fotografar, recordo-me da obra de René Magritte "Ceci n’est pas une pipe" (Isso não é um cachimbo). Fotografia é uma arte, e com certeza não fugiria da ideia de que é apenas uma representação de uma cena (ou objeto), não a cena em si. Pode parecer óbvio, mas na hora não se passa na cabeça, até o instante em que não consigo registrar com exatidão o que está à minha frente comparada em como aquilo se parece aos MEUS olhos.
É extremamente frustrante quando visualizo algo com tanta beleza, mas pela tela da câmera essa beleza se perde. Não importa o ângulo ou configurações que aplico, nunca sai com a mesma perfeição que meus olhos enxergam. Sempre busco em minhas fotos expor o melhor do objeto em questão, ou quando um conjunto de elementos se juntam harmoniosamente, tento captar essa harmonia, mas nem sempre consigo.
Não sei se eu deveria estar chateada com algo assim, até porque minha visão nunca será igual a dos outros. É extremamente difícil reproduzir alguma coisa de maneira idêntica ao real, assim como os sentimentos que me proporcionam. Fico tão maravilhada com elas que nenhuma foto clicada fica boa suficiente comparado com o que estou vivendo ali. Talvez congelar a imagem realmente acabe tirando um pouco da vida que ela emana. Não passa de uma cópia de uma obra da natureza.
Além da fotografia, na escrita também me deparo com esse problema. Já dizia Fernando Pessoa:
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
Pessoa alega que o poeta não coloca seus sentimentos no papel ao construir um texto, apenas finge que sente. Cria uma outra realidade ali entre os versos. Não sou nenhuma poetisa, mas de vez em quando me encontro com essas questões.
Quando vou escrever algum conto e quero que o leitor sinta as emoções do personagem (ou minhas mesmo), transcrevo sentimentos "inexistentes".
Inexistentes? Talvez nem tanto. Para conseguir descrevê-los, preciso ter passado por eles em algum momento da vida.
Posso não estar naquele estado de espírito, porém, tenho que recordá-lo e deixar que toque minha mente novamente para tentar ao máximo passá-lo com exatidão, selecionando bem cada palavra para que, juntas, criem o significado e a emoção desejada. Caso contrário, soará superficial demais e ninguém desenvolverá empatia alguma pelo personagem, nem mesmo eu.
Apesar do esforço e paciência para tentar representar da melhor maneira possível tudo o que vivo, creio que nem todas as pessoas receberão da mesma maneira. Minha visão de mundo não será igual de fulano, mas tenho fé de que, de alguma forma, meus trabalhos poderão passar um pouco de mim aos outros.
Pode não ser EXATAMENTE igual, mas sendo um pouquinho, já fico satisfeita.
~ VK ~
Comentários
Postar um comentário