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"Bufo & Spallanzani", de Rubem Fonseca ~



Na busca de histórias diferentes que fogem daqueles romances idealizados água-com-açúcar, com descrições mega detalhadas, personagens transbordando intensos sentimentos sem contexto, uma amiga me apresentou ao Rubem Fonseca. Queria conhecer narrativas sob uma visão “mais masculina”, sem todos aqueles terecotecos melosos enfeitando cenários e personagens típicos de livros voltados ao público feminino. 

Algo simples, objetivo e direto. E encontrei isso no Sr. Fonseca.

Esse não foi o primeiro livro que li desse autor, e sim “O Seminarista” (obra maravilhosa também, que futuramente pretendo fazer um post sobre). Porém, é tão incrível quanto. 

Confesso que em “Bufo & Spallanzani” eu nada conhecia (descobri hoje que tem até filme BR dele), nunca tinha lido sinopse, visto resenha de alguém, nada. Foi um tiro no escuro. 

Como gosto do autor, escolhi aleatoriamente alguns livros deles num sebo de Guarulhos, já julgando que qualquer um que eu pegasse não me desapontaria, e de fato, não desapontou.

Essa versão que eu comprei, não possui sinopse nem nada que fale um pouco sobre do que se trata a história. Iniciei a leitura na total ignorância, sem saber se era uma história só ou uma coletânea de contos (como um outro que comprei dele intitulado “Ela e outras mulheres”). 

Desde as primeiras páginas, a narrativa foi me cativando, e, quando dei por mim, já tinha sido conquistada por ela.

“Bufo & Spallanzani”, assim como outras obras do autor, tem uma trama policial narrada pelo personagem principal, Gustavo Flávio, um escritor que está desenvolvendo um livro com o mesmo título e está sob a mira do policial Guedes, que investiga a morte de uma rica moça chamada Delfina Delamare. Ao decorrer dos capítulos, Gustavo vai contando sobre a criação de seu livro, fala do seu passado, de sua inicial indiferença por mulheres, do porquê de ter tanta aversão pelo policial, etc. 

Porém, é bem diferente do tradicional gênero policial de Agatha Christie ou de Sir Arthur Conan Doyle. Nas obras de Rubem Fonseca, apesar de também possuir um caso de homicídio, o foco não está em descobrir quem é o criminoso, mas sim expor a brutalidade com que ocorre e como vai decorrendo até desvendar. 

Os vilões de Fonseca são seres extremamente frios, que nunca demonstram arrependimento. A maioria deles são pessoas de classe alta, cuja fortuna permitem controlar uma série de outros criminosos, e o “mocinho” não costuma ser beeem um mocinho. Não há essa ideia de um personagem 100% bom, honesto, que quer justiça, mas de uma pessoa “normal”, que também erra, não tem uma inteligência e sensibilidade tão alta como de Hercule Poirot. Em alguns casos, comete crimes, tem um passado sujo, e por aí vai. 

A violência urbana está quase sempre presente nas narrativas de Rubem Fonseca, assim como sexo/prostituição e corrupção. Ele me lembra um pouco do Bukowski ao mostrar esse lado podre da sociedade.

Em suma, “Bufo & Spallanzani” me surpreendeu bastante. Não deixou nada a desejar e faz jus à grandiosidade de seu autor. A leitura é bem fluida, repleta de diálogos, ações e cenas mais próximas da realidade . Você se envolve na história, querendo saber mais sobre o narrador personagem e, mais ainda, quem e por que que aquela mulher foi morta. 

Apesar de Gustavo não ser um santo, é possível sentir facilmente empatia por ele. Além disso, esse livro é bem interessante também devido aos diálogos e reflexões dos personagens à respeito dos escritores e da “arte de escrever”: escrever é realmente fácil e qualquer um que quer dinheiro simplesmente senta e escreve? Vale a pena a leitura não só para o puro e agradável entretenimento mas para entender essa questão ai. ;)

~ VK ~

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