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Mostrando postagens com o rótulo contos

Espelho de Mulher

Escrevi e publiquei esse conto em 11/06/2012 num outro blog que tinha. Por algum motivo, fiquei com vontade de (re)postá-lo em meu blog pessoal para deixar registrado. Gosto dele, e não alterei nada pois gostaria de manter o estilo de escrita que eu tinha há oito anos. Não sei o quanto mudou, até porque nunca mais escrevi (e quem sabe esse ano isso mude...). ----------------------------------------------------------- ESPELHO DE MULHER Delicados vasinhos carregando flores violetas enfeitavam o criado-mudo daquele quarto. Suas pétalas brilhantes harmonizavam-se com o papel creme das paredes. Suaves, tranquilizantes, traziam paz para aquele cômodo. Próximo a janela ficava a penteadeira. Um grande espelho com molduras bem trabalhadas estendia-se no centro daquela mobília. Duas gavetas cheias de utensílios femininos a completava. Julinha adentrou em seu quarto e pôs-se sentada perante aquela tela refletora. Observou, curiosa, para aquela superfície mágica que desenhava sua pe...

Ócio, café, sofá ~

Meu ano começou mais tranquilo do que eu esperava. Ao contrário dos dois anos anteriores, sobra-me mais tempo para ficar jogada no sofá olhando pela porta de vidro da sala. O dia está quente, a criançada grita lá fora. Estamos em março e o verão parece não ter pressa alguma de ir embora. Já olhei as notificações do celular umas oito vezes, e não consigo parar para entender o que se passa em minha mente. Meu problema com a ociosidade é exatamente ela: deparo-me com tanto tempo livre que fico sem saber por onde começar a aproveitá-la. Aí me pego aqui, largada na sala sem fazer e pensar em nada concreto.  Um pensamento vem e logo é atropelado por mais cinquenta. Não consigo focar em uma coisa só. Tudo vindo ao mesmo tempo, querendo a mesma atenção, e nada sendo devidamente processado. Uma cacofonia mental gritando em minha cabeça enquanto beberico minha quinta xícara de café do dia. "O café está bom. Verdade, tenho que finalizar aquele texto. Não terminei de ler aqueles trê...

O Pianista ~

Esse conto fez parte de um "desafio literário", no qual eu precisava criar uma história que contivesse as palavras Piano , Sorvete , Terremoto e Dragão como elementos significativos. ~~~ O PIANISTA Se tem algo que me deixa com a maior preguiça é o calor, pelo menos quando fico trabalhando em casa (se fosse para passear, não veria problema). Meu apartamento não é dos maiores, muito menos dos mais frescos. O sol bate na sala de manhã, e a tarde fica ali esquentando meu quarto. Se não fosse pelo meu ventilador e potes - e mais potes - de sorvete, já teria derretido  fazia tempo. Em dias como esse, minha gata, Sonata, fica esticada no azulejo frio da cozinha, subindo no sofá apenas ao final da tarde. Nossos dias de verão têm sido assim desde que nos mudamos para cá, há aproximadamente dois anos. Sonata apareceu para mim como uma bichana toda estrupiada na rua, com seus pelos amarelos e brancos bem judiados e falhados. Hoje, fica enroscada em algum canto da ca...

Telefonema, alô, bom dia ~

Estava num meio de um sonho doido quando algo no mundo real me tirou da fantasia. Um "algo" estridente. Um "algo" incessante e persistente. Junto do som que me despertara, o barulho de uma vibração sobre a madeira do criado-mudo colaborava para tudo aquilo se tornasse mais irritante.  Era meu celular tocando. E não, não era o despertador. Era alguém me ligando. "Quem me ligaria a essa hora?". Olho para o relógio e vejo: 11h40. É, acho que seria um horário comum para alguém ligar. O número da tela é desconhecido para mim, e logo prevejo que só perderia meu tempo atendendo. Deslizo o botão verde da tela. "Alô?" Um breve silêncio. Aquele silêncio que conheço MUITO bem e faz eu lembrar que não deveria ter atendido mesmo. Antes que desse tempo de eu desligar, surge um voz do outro lado da linha: - Boa tarde, poderia falar com a senhora Vivian? Isso. Meu nome. Dito com todas as letras. Nem mesmo "o proprietário d...

A Alice "das Maravilhas" ~

Essa é uma dessas histórias que nem eu sei se foi verdade. Ou foi verdade, mas não real. Ou real, com algumas partes de verdade. A outra seria mentira? Ou apenas delírios? Difícil dizer, e na real (essa é real mesmo), não estou a fim de pensar sobre essa questão, depois você se ocupa com isso. O que vou lhe contar ocorreu no último verão. Pelo calor, acredito que era no verão sim, quase certeza. Perdoem se estou meio confusa, minha mente anda uma bagunça. Já nem sei mais quando estou desperta ou em fantasia. Posso estar aqui, contando-lhe essa narrativa, mas nem por isso lhe garanto que meu espírito está de fato nesse lugar. Não sei mais quando estou realmente acordada.  Morava numa cidadezinha no interior de São Paulo, meio isolada do resto do mundo. Minha casa ficava um pouco afastado do resto da cidade, numa área onde só há pequenos sítios. A maior propriedade por lá é a Fazenda Iaciara, que abriga um enorme rebanho de Nelores. Constantemente passeava pela es...

Pneus também possuem histórias ~

Qual é o protagonista das histórias que você lê? Uma garota ou um garoto? Um homem ou uma mulher? Animais antropomorfizados? Seres mitológicos? Heróis? Uma árvore?  Com certeza você já leu diversos contos e narrativas com os mais diversos “tipos” de personagens centrais. Mas aí eu te pergunto: já leu a história de um pneu? “Ora, mas quem escreveria isso? E POR QUE escreveriam isso?“  Aí eu que te pergunto: por que NÃO escrevê-lo? Todo mundo tem uma história para contar, mas nem todos possuem alguém para escutá-la. Um mero e redondo pedaço de borracha como eu dificilmente atrairia os olhos de alguma pessoa. Poucos, pouquíssimos mesmos, gostam e notam a gente.  Quando expostos num mercado, a maioria dos que estão ali apenas verbalizam um “Nossa, que cheiro forte de borracha nova!” ao passarem por uma pilha de nós. Ou na rua, quando um carro derrapa, esbravejam “Que fedor de borracha queimada!”. Mas olhar para nós e admirar, raros. Não lembro exatamente quando f...