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Resenha: "A Menina Submersa: memórias", de Caitlín R. Kiernan ~



Um livro difícil de se explicar...

A Menina Submersa: memórias foi um livro que me surpreendeu; totalmente diferente de tudo que li até hoje (que não foi pouca coisa). Uma literatura contemporânea que te tira da zona de conforto.

A história é contada por India Morgan Phelps, mais chamada de Imp. De início, ela fala que escreverá uma história de fantasmas, não exatamente no sentido “espiritual” de almas penadas, mas sim de lembranças, imagens e até canções que a perseguem por sua vida; ficam ali, vivas em sua mente não deixando de serem esquecidas. E bom, dentre esses “fantasmas”, há pessoas também, como sua mãe e sua vó, mais especificamente as lembranças e ensinamentos que tivera delas, além de outra em especial: Eva Canning. Esta, foi a que mais me intrigou, e terminei o livro sem saber se era real ou não. Não falarei muito sobre ela para não dar spoiler, apenas digo que Imp, certa noite, encontra Eva (nua e aparentemente molhada) de pé na beira da estrada. O que ocorre depois, não digo, apenas que, depois desse encontro delas, coisas estranhas passam a acontecer na vida (e cabeça) de Imp.

Assim como sugere o título, Imp fala de suas memórias, com aquela impressão de estarmos ali, na frente dela, vendo ela digitar e nos contar. Conta várias coisas de sua vida, suas conversas com a psiquiatra, como sua namorada lidava com suas paranoias, suas supostas “visões”, das sensações que certos quadros lhe davam, enfim, fala de tudo que tenha ligação com esses “fantasmas” que a acompanham (e a acompanharam) durante esse tempo.

O interessante da narrativa é que Imp sofre de esquizofrenia (assim como sua mãe e avó também possuíam), ficando meio confuso inicialmente quem é que está escrevendo a história, pois ela parece falar com ela mesma em alguns trechos. Não sei o que se passa na cabeça de um esquizofrênico, realmente depois dessa eu queria saber. Imp não parece muito certa do que está contando, não sabe se ocorreu ou não, não sabe se está inventando, não consegue diferenciar a fantasia da realidade. E isso se estende até o final do livro. Ficou aquela dúvida para mim: será que aquelas coisas surreais que ela diz ver, realmente existiram? Coisas que pessoas “normais” não conseguem enxergar? Ou é puro delírio? Sempre acho que os loucos são loucos porque vêem coisas além de nossa compreensão (e nós, “normais”, por não entendermos/enxergarmos/controlarmos, preferimos taxá-los de loucos).

A única coisa que me incomodou foram as interrupções que ela faz durante alguns relatos que lhe ocorreram. Simplesmente para no meio porque “não se sente pronta para falar sobre”, continuando algumas páginas depois. 

Com certeza há pessoas que odiaram esse livro. Eu particularmente curti horrores, não só pela experiência de leitura, que foge completamente do que estava acostumada, mas também do modo que tudo ali ficava na minha cabeça mesmo após fechar o livro, me instigando a querer entender a mente de Imp, me perguntando qual o limite da normalidade e da loucura de uma pessoa. A escrita é tão bem feita que você consegue sentir as emoções de Imp, inclusive sua paranoia, principalmente num momento do livro que ela dá uma surtada; você consegue sentir esse desequilíbrio mental como se fosse seu. Ao menos foi esse efeito que Imp passou para mim.

Enfim, A Menina Submersa: memórias será um livro que ficará para sempre em minha biblioteca pessoal. Marcou-me não só pela narrativa, mas ensinou-me uma nova forma de escrever. É um livro cheio de mistérios e segredos logo nas primeiras páginas, que faz você querer entender suas ligações com toda a história. Realmente, não tenho como dizer muito sobre ele sem dar spoiler. Terão que ler para entender.

Pode ser que você não tenha a mesma experiência positiva que eu tive, porém, continuo a dizer que é um livro que vale a pena sim ser lido. Não no intuito de amá-lo, e sim pelas sensações que ele pode provocar dentro de você: a sensação breve de provar da loucura.

~ VK ~

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