Pular para o conteúdo principal

Postagens

Telefonema, alô, bom dia ~

Estava num meio de um sonho doido quando algo no mundo real me tirou da fantasia. Um "algo" estridente. Um "algo" incessante e persistente. Junto do som que me despertara, o barulho de uma vibração sobre a madeira do criado-mudo colaborava para tudo aquilo se tornasse mais irritante.  Era meu celular tocando. E não, não era o despertador. Era alguém me ligando. "Quem me ligaria a essa hora?". Olho para o relógio e vejo: 11h40. É, acho que seria um horário comum para alguém ligar. O número da tela é desconhecido para mim, e logo prevejo que só perderia meu tempo atendendo. Deslizo o botão verde da tela. "Alô?" Um breve silêncio. Aquele silêncio que conheço MUITO bem e faz eu lembrar que não deveria ter atendido mesmo. Antes que desse tempo de eu desligar, surge um voz do outro lado da linha: - Boa tarde, poderia falar com a senhora Vivian? Isso. Meu nome. Dito com todas as letras. Nem mesmo "o proprietário d...

Entre balas e doces ~

Em meus 24 anos de existência, percebi que minha paixão por doces foi diminuindo. Bom, nunca fui aquela formiga louca por uma guloseima melada de tanto açúcar! Mas gostava de ir até as vendinhas do bairro gastar minhas moedas em balas e chicletes. Contava cada centavo que tinha pelo meu quarto e trocava por um saco cheio de docinhos variados, que acabavam até o dia seguinte. Era divertido ficar rodando o baleiro, sempre na esperança de encontrar algum sabor diferente. Mesmo quando não encontrava, não me importava. Estava feliz com o que via ali: bala de maçã verde, morango, coca-cola e aquela salada de fruta na parte das Dimbinhos. Me acabava. Dentre as simples às recheadas das balas, as que mais gosto são aquelas que parecem puras pedrinhas de açúcar. Coloridas, retangulares, ou até circulares com um vazio de coração no centro, estas são as que mais me dão prazer de comer. Se esfarelam a cada mordida, porque não resisto apenas aguardar se desfazer na boca. E sinto cada peda...

Contos de guardanapo ~

Já faz três anos que conheço essa cafeteria, e sempre que posso, dou uma passadinha aqui nos finais de semana para saborear um café da tarde enquanto crio minhas histórias. Gosto desse ambiente aconchegante, luz baixa, com uma decoração vintage e poltronas para se acomodar em vez de apenas cadeiras convencionais. Muitos vêm para cá para trabalhar, sejam adultos ou jovens. "Café" e "Produtividade" combinam, não tem como negar. Porém, ao contrário da maioria, não trago meu notebook para cá, e sim meu bom e velho caderno. Não me sinto segura de sair por aí com uma artefato caro por essas ruas paulistanas, ao menos um caderno e uma Bic (ou lapiseira) são muito menos tentadoras de serem roubadas do que um computador portátil. Às vezes, venho para esse tipo de lugar não apenas para criar, mas também para prestar atenção às conversas à minha volta. Não, não faço isso porque gosto de cuidar da vida alheia. Na verdade, meu intuito é ouvir diferentes histórias que ...

Refúgio caótico ~

Às vezes, tudo o que mais quero é me esticar num gramado e sentir o solzinho de inverno tocar minha pele, enquanto um bando de maritacas se exaltam numa árvore próxima.  Não conheço muitos lugares no meio da cidade para isso, e faz uns anos que passei a ter uma visão negativa dos parques de São Paulo: pedaços de terra “ilhados” em meio à selva ~suja~ de pedra, que tentam passar a falsa impressão de que aqui na metrópole, você ainda pode se manter conectado à natureza.  Parece uma forma de tentar compensar a enorme poluição química/visual/auditiva/psicológica que Sampa bombardeia diariamente sobre nós. Fico sentada num desses parques, cercada  por árvores, gritos de criança, ouvindo as buzinas nervosas do outro lado do portão, sem encontrar a calmaria primária que eu procurava.  Consciente de que ainda me encontro em meio ao caos.  Vivendo uma experiência artificial do que eu desejava. Cidadãos que não parecem enxergar o mundo em que vivem; olh...

Resenha: "A Morte de Ivan Ilitch", de Lev Tolstói

Deve fazer seis anos desde que li um livro de um russo pela última vez, lembro que ainda estava no cursinho quando peguei “Noites Brancas”, de Dostoiévski. À propósito, um conto excelente. Ainda me recordo da narrativa, da tristeza do personagem, porém, não me identifiquei tanto como nessa novela de Tolstói. Como o próprio título já diz, esse livro conta a história de Ivan Ilitch antes de sua morte. Talvez, saber apenas isso não é muito atraente para fazer alguém ter vontade de ler. “Uau, fala da vida de um cara aleatório”. Porém, o que surpreende ao decorrer da novela é a sensibilidade colocada em cada linha. Ivan Ilitch era um juiz super dedicado à carreira, admirado pelos colegas (e invejado por outros), ganhava super bem, vivia entre a alta sociedade, no meio de pessoas de posição elevada, era casado, tinha filhos, etc. Um dia, enquanto arrumava seu novo apartamento, sofre uma queda e se machuca. Entretanto, achando que não foi nada, continua seguindo a vida normalment...

Os talentos agraciados pela pobreza ~

Quando se é pobre tem que ser criativo!   Taí uma sabedoria que nunca vou esquecer. E principalmente, não deixa de ser esquecida, sobretudo nos momentos da vida em que o dinheiro está curto. Otimista como uma boa sagitariana, tentei ver o lado bom dessa situação.  Estando ciente que é praticamente impossível no momento conseguir alguma fonte de renda a mais, adicionado ao fato de que faz dois anos que quero mudar a cara do meu quarto, e ainda que sou uma doida por cosméticos/maquiagem, tive que buscar uma solução para manter isso tudo sem comprometer o bolso. Bem, desde criança fui incentivada a realizar trabalhos manuais. Sabe aquele negócio de criar brinquedos e afins utilizando sucata? Reaproveitar tudo o que não usa ou vai pro lixo para transformar em algo útil?  Pois bem, com base nisso que tenho pensando em algumas “criações”. Busquei na internet alguns DIY com coisas que temos em casa sobrando. Nisso, me veio a ideia ~ e paciência ~ de fazer: -...

Resenha: "A Menina Submersa: memórias", de Caitlín R. Kiernan ~

Um livro difícil de se explicar... A Menina Submersa: memórias foi um livro que me surpreendeu; totalmente diferente de tudo que li até hoje (que não foi pouca coisa). Uma literatura contemporânea que te tira da zona de conforto. A história é contada por India Morgan Phelps, mais chamada de Imp. De início, ela fala que escreverá uma história de fantasmas, não exatamente no sentido “espiritual” de almas penadas, mas sim de lembranças, imagens e até canções que a perseguem por sua vida; ficam ali, vivas em sua mente não deixando de serem esquecidas. E bom, dentre esses “fantasmas”, há pessoas também, como sua mãe e sua vó, mais especificamente as lembranças e ensinamentos que tivera delas, além de outra em especial: Eva Canning. Esta, foi a que mais me intrigou, e terminei o livro sem saber se era real ou não. Não falarei muito sobre ela para não dar spoiler, apenas digo que Imp, certa noite, encontra Eva (nua e aparentemente molhada) de pé na beira da estrada. O que ocor...