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Refúgio caótico ~



Às vezes, tudo o que mais quero é me esticar num gramado e sentir o solzinho de inverno tocar minha pele, enquanto um bando de maritacas se exaltam numa árvore próxima. 

Não conheço muitos lugares no meio da cidade para isso, e faz uns anos que passei a ter uma visão negativa dos parques de São Paulo: pedaços de terra “ilhados” em meio à selva ~suja~ de pedra, que tentam passar a falsa impressão de que aqui na metrópole, você ainda pode se manter conectado à natureza. 

Parece uma forma de tentar compensar a enorme poluição química/visual/auditiva/psicológica que Sampa bombardeia diariamente sobre nós.

Fico sentada num desses parques, cercada  por árvores, gritos de criança, ouvindo as buzinas nervosas do outro lado do portão, sem encontrar a calmaria primária que eu procurava. 

Consciente de que ainda me encontro em meio ao caos. 

Vivendo uma experiência artificial do que eu desejava.

Cidadãos que não parecem enxergar o mundo em que vivem; olham para frente sem enxergar tantos elementos vivos ao seu redor: árvores que cantam junto ao vento, o sol que pinta um imenso crepúsculo todo fim de tarde, flores que desabrocham a cada estação, coloridas borboletas que rodopiam cruzando seu caminho enquanto caminha até seu trabalho, e até a chuva, que era tão bem recebida em sua infância (ou quando está de férias no interior), passa a ser vista como um castigo quando cai sobre a cidade (exceto em épocas de intensa seca).

As pessoas daqui parecem sentir pavor de se molhar. Parecem ter se afastado tanto da natureza que vira um absurdo querer se reaproximar dela. 

Senti-la passa a ser “inviável”. 

Até mesmo parar para observar, ou até tocar, um inseto, é visto com maus olhos pelos outros, como se fosse doentio você admirar essas pequenas criaturas que estavam aqui bem antes da gente surgir, mas que causam repugnância à maior parte da sociedade. 

Além disso, vejo cada vez mais animais de estimação sendo humanizados, perdendo o direito de ser o que são, tendo desejos humanos impostos como seus.

A cidade grande se apresenta aos meus olhos como um lugar doente, cheio de mentes perturbadas. 

Um lugar que constantemente nos oferece diversas comodidades, produtos e serviços, prometendo soluções para os problemas que ele mesmo criou.

Um lugar que tenta me convencer que levar uma vida sob o intenso estresse e correria do dia-a-dia, fechados em casa ou no escritório, fosse a única forma humana de realmente viver.

~ VK ~

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