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Contos de guardanapo ~



Já faz três anos que conheço essa cafeteria, e sempre que posso, dou uma passadinha aqui nos finais de semana para saborear um café da tarde enquanto crio minhas histórias. Gosto desse ambiente aconchegante, luz baixa, com uma decoração vintage e poltronas para se acomodar em vez de apenas cadeiras convencionais. Muitos vêm para cá para trabalhar, sejam adultos ou jovens. "Café" e "Produtividade" combinam, não tem como negar. Porém, ao contrário da maioria, não trago meu notebook para cá, e sim meu bom e velho caderno. Não me sinto segura de sair por aí com uma artefato caro por essas ruas paulistanas, ao menos um caderno e uma Bic (ou lapiseira) são muito menos tentadoras de serem roubadas do que um computador portátil.

Às vezes, venho para esse tipo de lugar não apenas para criar, mas também para prestar atenção às conversas à minha volta. Não, não faço isso porque gosto de cuidar da vida alheia. Na verdade, meu intuito é ouvir diferentes histórias que essas pessoas desconhecidas estão contando aos seus amigos. No meio desses relatos, às vezes tristes, outras divertidas, posso sorrateiramente pescar uma ideia para um novo texto (relaxa, não reproduzo neles a história íntegra, só me inspiro num elemento ou outro mesmo. Sem crises, por favor). Entre um gole ou outro, anoto num guardanapo algumas palavras-chaves. Em uns momentos, reproduzo em desenhos algumas ideias, ficando bem mais claras para mim, e me inspirando mais ainda.

Em casa tenho guardado algumas dessas anotações que faço por aí, não só de cafeterias; de restaurantes e lanchonetes também. Se estou num ônibus ou num metrô, é no bloco de notas do celular mesmo que elas são registradas. Desses pequenos fragmentos rabiscados, germinam contos mirabolantes, que desabrocham botões de singelos sorrisos ou pétalas de surpresa. Nunca se sabe como posso desenvolver uma ideia, que tipo de texto será extraído de cada uma delas. Confesso que nem mesmo eu consigo adivinhar. Muitas, seguem tantas linhas de possibilidades que levam muitos rascunhos e rabiscos até se focarem numa só.

É gostoso transformar pequenas palavras em grandes histórias. Sinto-me desafiada. Transformá-las em algo maior do que na conversa que foram originadas, exigindo o máximo possível de meu potencial de criação. Tudo bem que nem sempre consigo fazer algo elogiável, porém, fico satisfeita em saber que ao menos minha mente foi despertada para trabalhar em algo novo. Reverter relatos felizes para algo dramático, tristes em misteriosos, trágicos em fantasia, poder brincar com essa diversidade de gêneros, mesclando incontáveis elementos, é um passatempo prazeroso. Sabe-se lá quantas histórias podem ser tiradas de apenas um mísero guardanapo de papel.

~ VK ~

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