Escrevi e publiquei esse conto em 11/06/2012 num outro blog que tinha. Por algum motivo, fiquei com vontade de (re)postá-lo em meu blog pessoal para deixar registrado. Gosto dele, e não alterei nada pois gostaria de manter o estilo de escrita que eu tinha há oito anos. Não sei o quanto mudou, até porque nunca mais escrevi (e quem sabe esse ano isso mude...).
Julinha adentrou em seu quarto e pôs-se sentada perante aquela tela refletora. Observou, curiosa, para aquela superfície mágica que desenhava sua pessoa com precisão. Pousou a mão de leve sobre a face, reparando para cada detalhe de sua pele. Às vezes torcia o canto da boca de desgosto, outras erguia as sobrancelhas surpreendida. Sentia-se um tanto apagadinha, o que a desagradava. Sem demoras, tirou da gaveta um estojo de maquiagens. Sem exageros, pintou-lhe os lábios de carmim e ressaltou o olhar com um pouco de lápis. Disfarçou imperfeições com um pouco de corretivo e tratou de colocar o melhor sorriso que possuía. Ajeitou os cabelos com as mãos mesmo, já que estes não se encontravam tão judiados. Mais uma vez, parou para se fitar. Ah! Que bela donzela fitava para ela! Por alguns minutos contemplou aquela bela moça que via pelo espelho. Brincava consigo mesmo, fazia poses, caretas, franzia o nariz, arregalava os olhos, escancarava os dentes...se divertia. Várias vezes pegava-se rindo sozinha, apenas por aquela pequena diversão boba, mas que enchia seu coração de bem-estar. Sentia-se tão viva! Em alguns momentos passou a buscar por ângulos que valorizassem melhor sua fisionomia. Lançava olhares sérios, arqueava uma sobrancelha, fazia-se de mistério, tentava um "charmezinho", e mais uma vez ria, e ria feito menina. Erguia a cabeça com orgulho e observava aquele reflexo que expressava extrema confiança: estava poderosa! À passos calmos, foi até o gaveteiro e tirou uma máquina fotográfica. Cuidou que ninguém a observava. Com gestos lentos e bem calculados, clicou sua própria imagem no espelho, como faziam algumas meninas que frequentavam sua casa. Após tal atitude, caiu sentada na cama rindo de si mesma. “Mas que diabos estou fazendo?” Tratou logo de excluir a foto, tendo um pouco de dificuldade de mexer naqueles botões. - Dona Julinha? - Hum? Pois não? - Eles já chegaram. Estão aguardando-a na cozinha. - Ah, muito obrigada! Já irei descer! Assim que sua amiga saiu do quarto, levantou-se da cama. Sentia o corpo um pouco cansado, mas saber que visitas a aguardavam a revigorava. Antes de ir, fitou-se pela última vez no espelho. Ainda estava impecável, com um caloroso brilho jovial partindo de sua alma. Do espelho, aquela moça divertida a observava com um sorriso nos lábios e um olhar de cumplicidade. Julinha deu uma leve risada, retribuindo o olhar, guardando aqueles agradáveis momentos para si e para a imagem. “Shiu! É nosso segredo!” – pensou consigo mesmo, pousando um dedo sobre os lábios. Em seguida, sorridente e feliz, deixou o reflexo no quarto e partiu para a cozinha, onde seus netos a aguardavam.
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ESPELHO DE MULHER
Delicados vasinhos carregando flores violetas enfeitavam o criado-mudo daquele quarto. Suas pétalas brilhantes harmonizavam-se com o papel creme das paredes. Suaves, tranquilizantes, traziam paz para aquele cômodo. Próximo a janela ficava a penteadeira. Um grande espelho com molduras bem trabalhadas estendia-se no centro daquela mobília. Duas gavetas cheias de utensílios femininos a completava.
Julinha adentrou em seu quarto e pôs-se sentada perante aquela tela refletora. Observou, curiosa, para aquela superfície mágica que desenhava sua pessoa com precisão. Pousou a mão de leve sobre a face, reparando para cada detalhe de sua pele. Às vezes torcia o canto da boca de desgosto, outras erguia as sobrancelhas surpreendida. Sentia-se um tanto apagadinha, o que a desagradava. Sem demoras, tirou da gaveta um estojo de maquiagens. Sem exageros, pintou-lhe os lábios de carmim e ressaltou o olhar com um pouco de lápis. Disfarçou imperfeições com um pouco de corretivo e tratou de colocar o melhor sorriso que possuía. Ajeitou os cabelos com as mãos mesmo, já que estes não se encontravam tão judiados. Mais uma vez, parou para se fitar. Ah! Que bela donzela fitava para ela! Por alguns minutos contemplou aquela bela moça que via pelo espelho. Brincava consigo mesmo, fazia poses, caretas, franzia o nariz, arregalava os olhos, escancarava os dentes...se divertia. Várias vezes pegava-se rindo sozinha, apenas por aquela pequena diversão boba, mas que enchia seu coração de bem-estar. Sentia-se tão viva! Em alguns momentos passou a buscar por ângulos que valorizassem melhor sua fisionomia. Lançava olhares sérios, arqueava uma sobrancelha, fazia-se de mistério, tentava um "charmezinho", e mais uma vez ria, e ria feito menina. Erguia a cabeça com orgulho e observava aquele reflexo que expressava extrema confiança: estava poderosa! À passos calmos, foi até o gaveteiro e tirou uma máquina fotográfica. Cuidou que ninguém a observava. Com gestos lentos e bem calculados, clicou sua própria imagem no espelho, como faziam algumas meninas que frequentavam sua casa. Após tal atitude, caiu sentada na cama rindo de si mesma. “Mas que diabos estou fazendo?” Tratou logo de excluir a foto, tendo um pouco de dificuldade de mexer naqueles botões. - Dona Julinha? - Hum? Pois não? - Eles já chegaram. Estão aguardando-a na cozinha. - Ah, muito obrigada! Já irei descer! Assim que sua amiga saiu do quarto, levantou-se da cama. Sentia o corpo um pouco cansado, mas saber que visitas a aguardavam a revigorava. Antes de ir, fitou-se pela última vez no espelho. Ainda estava impecável, com um caloroso brilho jovial partindo de sua alma. Do espelho, aquela moça divertida a observava com um sorriso nos lábios e um olhar de cumplicidade. Julinha deu uma leve risada, retribuindo o olhar, guardando aqueles agradáveis momentos para si e para a imagem. “Shiu! É nosso segredo!” – pensou consigo mesmo, pousando um dedo sobre os lábios. Em seguida, sorridente e feliz, deixou o reflexo no quarto e partiu para a cozinha, onde seus netos a aguardavam.
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