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Alfredo ~


(Talvez esse conto não faça sentido para alguns. Foi baseado em histórias internas de RPG online nos anos de 2006-2007)

Já fazia sete anos desde que se aposentou de seu emprego de mordomo. Costumava trabalhar para uma moça que morava sozinha, mas vivia recebendo visitas de amigas. Não reclamava. Sempre gostou do seu trabalho, principalmente das viagens que elas o levavam. 

A casa constantemente estava cheia. Achava engraçado ver aquelas garotas (ou já se poderia dizer mulheres?) na maior algazarra feito meninas numa festa do pijama. Apesar de agora estar tranquilo em sua vida, podendo acordar a hora que quiser, usar o tempo como preferir, sentia falta da agitação daquela casa.

Alfredo morava sozinho numa casinha no interior, não tão distante de onde servia. Às vezes se sentava perto da janela, bebericando um delicioso café que só ele sabia fazer (e que a mocinha gostava muito). 

De lá, era possível ver parte da casa onde trabalhou, que hoje, estava vazia. Sua moradora havia se mudado. Desde então, nenhum outro habitante pisou naquele terreno. O grande jardim, que sempre cuidou com muito zelo, estava parecendo uma selva. As janelas e cortinas fechadas, mal possibilitando visualizar o lado de dentro. A pintura estava desgastada, e o portão levemente enferrujado. 

“Ai ai, madame...”

Vários momentos de seu dia suspirava pensando em como era feliz naquele lugar. Sabia que não era um trabalho fácil; as garotas eram muito geniosas, vivia correndo para cima e para baixo atendendo seus pedidos. De vez em quando o sacaneavam, mas não sentia maldade em suas brincadeiras, apesar de nem sempre ter certeza se era brincadeira ou não. 

Seu evento predileto eram as sextas à noite, no qual as meninas se reuniam para conversar e rir a noite inteira, sempre acompanhadas de caixas de Pizza Hut. Achava graça em ver aquelas supostas donzelas se acabando nas pizzas feito umas desesperadas, sempre rindo e gritando com ele. 

Dava-lhe um  aperto no coração quando recordava desses momentos. Era bem cansativo, porém, sempre sentia que valia a pena. No fundo, tinha ciência de como sua madame gostava de tê-lo por perto. Sentia-se importante e útil. Toda manhã levantava da cama sabendo que alguém o esperava e precisava dele. 

Nos dias que ficava doente, a moça fazia questão de cuidar para que melhorasse logo, mostrando sua gratidão. Era inegável o vazio que habitava seu interior agora que estava sozinho. Infelizmente, a patroa teve que se mudar e não podia levá-lo com ela. Até lhe ofereceu a casa, mas o que faria com aquele tanto de espaço? 

A sensação de solidão só aumentaria. Era difícil engolir aqueles corredores e cômodos sem ver as meninas zanzarem por ali.

Apesar de tudo, sabia que uma hora esse dia chegaria. Não poderia servir à garota para sempre, e nunca sabia se ela voltaria viva para casa. Tinha um “emprego” complicado que nunca entendeu direito, mas sempre orava para que tudo desse certo e a vitória estivesse sempre ao lado dela. 

Provavelmente não entendeu direito o que seria servir à uma amazona. Era tão jovem, não conseguia imaginar que aquela espevitada que vivia gritando por seu nome pela casa pedindo comida também saía por aí em guerras santas. Se preocupava muito, a via como a filha que nunca teve. Na época ela tinha por volta dos 22 anos, e ele já beirando os 47.

Todo dia se lembrava desses tempos, ainda mais porque em cima da lareira da sala, havia um porta retrato com uma foto dele com as garotas num dia na praia. Sempre deixava escapar uma risada quando olhava, lembrando como foi divertido aquele dia. Aquela era a única lembrança que carregou contigo além das memórias. 

Como será que estavam? Haviam mudado? Ou estariam do mesmo jeito que sete anos atrás? Ainda viviam juntas? Queria muito saber por onde aquelas mocinhas andavam. Desapareceram e nunca mais obteve notícias. 

Até se arrepiava quando pensamentos negativos inundavam sua cabeça, imaginando que algo ruim poderia ter ocorrido com alguma delas. Mas logo dava um jeito de afastar essas ideias. Não poderia crer em algo assim. 

A saudade lhe consumia a alma. O que ele não daria para ver de novo aquelas madeixas cor-de-rosa de sua Brabuleta esvoaçando corredor à dentro, dando um colorido em sua vida.

~ VK ~

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