Creio
que todo mundo já guardou alguma coisa que teve dó de usar depois.
Mais ainda, comprou
algo porque achou bonito, mas sempre adiou o momento de estrear.
Ou até mesmo
usou, mas economizava tanto, com medo de acabar, que acabou vencendo (e ainda restava
uns 70% do produto; 70% indo pro lixo, ou 70% de uma parte do seu dinheiro "investido" nele que você jurava
que estava aproveitando da melhor maneira possível, sem desperdício).
Tinha
acabado de me mudar. Estava animada em organizar as coisas em meu quarto.
Como
era lindo ver aquelas gavetas, bancadas e armários vazios, tendo a chance de
arrumar como quiser, tentar fazer melhor do que como estava antes!
Retirava os itens
da caixa animadamente, revendo coisas que nem lembrava que existia. Cada caixa
uma surpresa, parecia uma criança.
Encontrei monte de canetas que nunca foram
usadas; adesivos de agenda e caderno intactos; papeladas infinitas que eu nem sabia
porque estavam ali; chaveiros quebrados (o pingente era bonito, poxa); coleção
de batons; cadernetas fofas, etc.
A
magia, porém, desapareceu quando fui abrir a antepenúltima caixa e notei que já
não tinha lugar pra mais nada.
Fiquei uns quinze minutos tentando reorganizar para abrir espaço. Mexia, remexia, mudava a forma
de guardar, mas nada.
"Caramba, e agora?"
Por
mais que tentasse, não conseguia mais espaço.
"Bom, vamos ver..."
Abri
a gaveta com as canetas.
"Será que ainda pega?"
Testei todas, uma por
uma, descartando todas que falhavam ou nem funcionavam.
"Uma pena. Tão
bonitinha".
Muitas eu sabia que não pegavam mais, porém, tinha guardado pra
mim. Era tão cuti cuti que deu uma dorzinha no coração de me desfazer.
Amo muito
minhas coisas, mas amo mais ainda quando elas têm função para mim.
Joguei
também meus chaveiros e outros itens quebrados. Não ia arrumá-los, tinha ciência
disso, não poderia me enganar. Guardava na esperança que um dia o faria, ou por apego mesmo.
Lembro do prazer que senti quando os comprei.
"Mas já foi...duraram quanto podiam."
Descartei. E assim fui fazendo com
as outras coisas.
Rasguei todo material que não ia usar mais; joguei perfumes e
maquiagens que mal usei por pena de acabar, e que no fim acabaram vencendo; selecionei
revistas que já li para doar, e livros que não gostei; separei roupas e sapatos
que não usava há um ano (e sei que não fariam falta), etc.
Quando
dei por mim, já haviam umas três sacolas só de descarte.
Consegui arrumar tudo e tomei coragem de usar tudo o que havia acumulado. Tudo
que estava ali agora tinha um propósito.
Algumas lembranças indispensáveis mantive
(eu gosto, me fazem felizes, e são insubstituíveis).
Assim
que terminei, olhei para o meu trabalho e senti uma leveza. Não ter nada ali
preso deu uma sensação de liberdade. Parecia que tinha tirado um enorme peso
das costas quando me desfiz daquele excesso de itens acumulados (um peso morto,
grosseiramente falando).
Tudo agora tinha seu lugar em meu quarto e, quando acabavam,
abriam espaço para algo novo entrar.
Nada mais estava estagnado, tudo agora iria
fluir, acompanhando o tempo, juntamente como minha vida.
~ VK ~
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