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Questão de Ângulos e Perspectivas



Todos os dias passo pelo mesmo caminho, vendo o mesmo cenário, mesmas árvores, mesmos prédios, mesmos tudo. 

Já é costume ter que passar por essas ruas e se deparar com as mesmas esquinas. 

Hoje, decidi fazer um pouco diferente para sair do piloto automático.

Tomei um caminho alternativo para chegar ao meu destino, mas nada de muuuito especial. 

Comecei trocando o lado da calçada. Sempre vou pela direita por não precisar atravessar a rua. Não gosto de ficar parada aguardando o fluxo de carro cessar. 

Hoje saí de meu conforto e o fiz. Além disso, por que ir pela mesma reta se há um caminho pelas escadas? Subi.




O dia estava gostoso, nublado, com um vento gelado percorrendo todo o lugar sem parar. Parei por um instante para senti-lo, e vê-lo agitar as folhas das árvores e plantas do chão. 

Não era a primeira vez que andava por ali, mas era a primeira que eu parava para observar e sentir tudo à minha voltar interagir ao mesmo tempo. 

Por um instante não reconhecia aquele lugar. Parecia novo aos meus sentidos. 

A música das folhas balançando e do vento tocando à todos com certeza não era o mesmo do dia anterior e nem será igual ao do dia seguinte. 

Cada minuto é novo, e cabe a nós enxergá-lo como um evento distinto ou repetido. 

Diariamente a natureza nos canta uma canção, mas não é sempre que paramos para ouvi-la. Diariamente nos prepara uma linda manhã (seja ensolarada ou nublada), mas não é sempre que a notamos. 

Qual foi a última vez que olhou para o céu? Quando foi que reparou na disposição das árvores e no som de seus galhos balançando, e admirou a chuva de folhas que periodicamente deixa cair?




Infelizmente a vida corrida nos priva desses pequenos detalhes que estão sempre ali, sob nossos olhos. Enxergamos apenas o óbvio, achando que perderíamos tempo - que nem temos - para estender um pouco mais nossa visão. 

Com a cabeça cheia de preocupações, até esquecemos do mundo que vai além de nossa mente e está aqui, à nossa volta. E esquecemos principalmente que fazemos parte dele.

Meus olhos estão constantemente observando ao redor. Fotografo mentalmente os cenários, seja enquanto caminho, aguardo o ônibus, ou quando já estou dentro dele em meu trajeto; meus olhos não param de registrar. 

As mesmas cenas cotidianas se modulam em quadros diferentes, seja porque tal prédio ficou em maior contraste com o céu fechado daquele dia, ou porque uma praça ficou mais majestosa com os raios de sol daquela segunda-feira. 

Tudo pode ficar com uma cara diferente dependendo da nossa perspectiva. 

Meus olhos vão desmontando o ambiente, ora observando o conjunto, ora observando o individual, ou às vezes formando duplas. 

Não precisamos aceitar a cena como ela é; podemos destacar aquilo que gostamos mais de um todo. 

Espero que isso seja uma habilidade que nunca fugirá de mim, pois faz de meus dias momentos mais agradáveis. Sempre me surpreendendo e me dando mais satisfação por poder estar ali, seja uma segunda de manhã, ou a tarde pacata de um domingo. 

Permita-me brincar com tudo isso.




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