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Devaneios de uma segunda à noite

O relógio já passara das 2h20 da manhã quando comecei esse texto. Não é sempre que me acomodo no meio da madrugada, encostada no sofá, luzes apagadas, só eu, minha mente e uma folha em branco. 

Minto, ainda há alguém cantando nos fones em meu ouvido. Confesso que nem estou prestando atenção no que proclama, mas a harmonia musical de sua voz e instrumentos está deixando tudo mais perfeito.

Pensando aqui, parece algo tão bobo e simples ficar assim, "de bobeira" ao decorrer da madrugada. Não sei porque não faço isso sempre; é algo a cogitar a adicionar em minha rotina. 

O diferencial disso tudo é que tudo está na mais perfeita calma e tranquilidade. 

Tanto a noite como meu espírito. 

Sem pressa para terminar esses parágrafos, fazendo umas pausas para apreciar a melodia de fundo - alta o suficiente para ocultar o tic-tac dos relógios, mas baixa o bastante para escutar meus pensamentos -, escrevendo e apagando palavras, e às vezes me perdendo entre as linhas, mas sem me importar. 

O que custa escorregar entre as letras enquanto as organizo aqui no papel? 

Posso brincar livremente com suas curvas e acentos. Não há ninguém aqui ao redor para me julgar de louca. 

E se tivesse também, quem se importaria? Uma louca no meio de outros loucos num mundo louco afundado em loucura, quem pode ser mais louco aqui? 

Um louco apontando para outro louco, e loucos sendo mais loucos ao seguirem a loucura do outro, achando tal loucura "normal". O que de fato é "normal"?

Como pode ser tão confortante esse silêncio e escuridão noturna? 

O breu, que tanto me assustava quando criança, torna-se um companheiro fiel ao decorrer das primaveras. Quanto mais as flores desabrocham, mais me acolhe isso que alguns apelidam de "trevas". 

Sem luz, sem foco, podendo me camuflar em meio às sombras. Sem os olhos do mundo em mim, permitindo-me suspirar, aliviada em poder retirar a máscara e olhar de volta à todos, sem temer refletir em minhas orbes as ideias despidas da moral e ética que nos é imposta desde o momento do nascimento. 

A noite lhe concede asas - sejam negras ou de borboletas - permitindo-lhe que voe pelo seu universo mais secreto, trazendo à realidade seus pensamentos mais obscuros que voltarão a se recolher ao primeiro raio de sol. 

Pequenos momentos de liberdade, que você pode ser 100% você. 

Pode contestar com ódio tudo o que lhe disseram nas horas de luz. Pode derramar as lágrimas contidas naquela tarde. Tudo sem medo de revelar seu "eu" mais intenso ao mundo, que sabemos que eles condenariam. 

Aqui, à noite, sob os olhos sigilosos da lua e das estrelas, seu segredo estará seguro. 

E a luz fria do luar vai refrescar sua memória, comprimida e febril pelo calor do sol.

Falando nisso, como estará o céu nesse momento? 

Poucos são aqueles que ainda erguem seu semblante para a imensidão azul superior. Mesmo nublado, é possível encontrar uma luz brilhando para você, nem que esse brilho esteja nos olhos de alguém. 

A noite não é para todos; só para quem sabe apreciá-la. 

Aos que não sabem, talvez ela se torne um martírio, uma névoa pesada que corromperá seus pensamentos mais sensíveis. 

Não odeie a atmosfera noturna; ela apenas quer mostrar seu melhor escondido em seu pior. 

Basta libertar sua mente e deixar ela te guiar, sem medo de confrontar seu lado mais sombrio que está mais forte nessas horas, mas que continua sendo parte fundamental de você

O lado desprezível sob a luz, mas o que te mantém de pé quando essa aurora o cega e o trai.

Já passou das 3h30 e nem sei mais quem está cantando. Mas o som está legal, agradável de se escutar, até mais que a anterior. 

Releio tudo o que escrevi até agora, com quase certeza que nada fará sentido quando eu acordar. 

A manhã vai livrar minha cabeça de todas essas ideias; aquecerá meu coração para eu não me sentir mal, e talvez para que eu também crie uma história só para ela. 

Apenas dela.

~ VK ~

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